JOSÉ SARAMAGO. ASCOLTANDO BEETHOVEN.

Di Antonella Pederiva .

fotomontaggio dal web

Vengano leggi e gente di giustizia
decalogo di questi ed altri mondi,
vengano editti, ordini e vendette,
e il giudice ci indaghi sino in fondo.

A ogni crocevia della città,
brilli, rossa, la luce inquisitrice,
striscino il suolo i denti dei superbi
e l’ordine ci diano di ramazzarli.

A ogni mano che c’è si chiedano dita,
da insozzare alle schede degli archivi,
non si rispetti mistero né segreto,
Ch’è d’umana natura essere schivi.

Mettano ovunque fogli di presenza,
orologi dall’ora sempre esatta,
non si scelga o s’accetti altra arte
che la prosa d’ufficio, il verso dati.

Ma quando a loro avviso ci hanno in pugno,
circondati da bastoni e da fortezze,
cadranno con fragore gli alti muri
e il giorno verrà delle sorprese.

OUVINDO BEETHOVEN

Venham leis e homens de balanças,
Mandamentos daquém e dalém mundo.
Venham ordens, decretos e vinganças,
Desça o juiz em nós até ao fundo.

Nos cruzamentos todos da cidade
Brilhe, vermelha, a luz inquisidora,
Risquem no chão os dentes da vaidade
E mandem que os lavemos a vassoura.

A quantas mãos existam, peçam dedos,
Para sujar nas fichas dos arquivos.
Não respeitem mistérios nem segredos,
que é natural nos homens serem esquivos.

Ponham livros de ponto em toda a parte,
Relógios a marcar a hora exacta.
Não aceitem nem votem outra arte
Que a prosa de registo, o verso data.

Mas quando nos julgarem bem seguros,
Cercados de bastões e fortalezas,
Hão-de cair em estrondo os altos muros
E chegará o dia das surpresas.